25/04/2008
Devaneios - Adriana Falcão
O estudo das enfermidades mentais, objeto da psiquiatria, é assunto muito complexo.
Só com muitos anos de pesquisa e dedicação se poderia discorrer seriamente sobre o tema. Diagnosticar um psicótico, um esquizofrênico, um neurótico ou um psicopata apenas por conhecimento de causa, sem o auxílio da ciência, seria loucura.
Partindo da premissa, porém, de que "de médico e de louco todo mundo tem um pouco", o objeto deste documento é discutir as semelhanças e diferenças entre os quatro tipos básicos de cidadão: os doidos, os loucos, os birutas e os malucos.
Vale registrar, para evitar futuras complicações familiares ou jurídicas, que as teses aqui levantadas não pretendem ter valor científico, são apenas frutos da observação detalhada de uma grande amostra do ser humano, todo mundo por aí.
Essa investigação baseou-se em minuciosa análise dos comportamentos do indivíduo; em outras palavras, na mania (obcecação resultante de desejo imoderado) de ficar reparando no povo.A participação, ainda que involuntária, de maridos, mulheres, casais de namorados, adolescentes, mães, bêbados e políticos foi de enorme importância para a elaboração deste modesto ensaio.A questão aqui trata da diagnose das esquisitices dos seres humanos normais, sem a intenção de criticar, justificar, teorizar ou se solidarizar com os exemplos citados.Também não é nosso objetivo apontar soluções, ofender ninguém nem enlouquecer ainda mais as criaturas. Restringimo-nos a organizar resumidamente a nossa espécie.
1 – O louco.Indivíduo capaz de cometer loucuras como adentrar a casa da namorada/namorado às 4 da manhã cantando Roberto Carlos, desafiar assaltos e engarrafamentos para comprar determinado tipo de torta de limão que só se encontra do outro lado da cidade, acreditar que seu pedido será realizado se o próximo carro que passar for vermelho, mesmo que esse pedido seja um aumento de salário. A mente dos loucos funciona loucamente sem parar – um pensamento puxa outro, que puxa outro, que puxa outro –, tornando-se difícil manter uma linha lógica de raciocínio, o que é que eu estava dizendo mesmo? Ah, eu estava falando dos loucos, agora vou passar para os malucos.
2 – O maluco.Tipo de louco com fortes inclinações para artes plásticas, filosofia, teatro, física nuclear e delírios de qualquer natureza. Maluco geralmente gosta de bar, de fumaça, de incenso, de pôr-do-sol, de localizar as Três Marias no cinturão da constelação de Órion, de questionar, por exemplo, "Se a levada do bongô fosse tum-tum-tum, em vez de tum, não dava um som mais maneiro?" ou "Já pensou se o dia andasse pra trás, pra começar de noite e terminar de manhãzinha?", e de jogar conversa fora, qualquer uma serve, só para passar o tempo, sem nem perceber que está tomando o tempo dos outros com besteira, opa, percebi.
3 – O doido.Como o doido geralmente está doidinho, torna-se fácil identificá-lo. Existem doidos para casar, doidos para separar, doidos para que chegue logo a sexta-feira, doidos por futebol, por internet, por sexo, por sucesso, por aspargos ou por qualquer coisa pela qual eles possam ficar doidos. É comum o portador da doidice não conseguir identificar por que está doido, o que provoca enorme ansiedade e faz o pobre do doido ficar doido para arranjar um motivo qualquer para ficar doido sossegado.
4 – O biruta.Birutas apresentam variados impulsos de caráter lúdico, tais como: atravessar a rua dançando mambo, imitar um urubu-rei em cima do telhado, fingir que é guarda de trânsito, provocar tropeções, passar trotes, dar sustos, amarrar o rabo do gato ou fazer verso.Foram constatados ainda vários casos de associações.Existem loucos malucos. Ou malucos muito doidos. Ou doidos meio birutas. Ou birutas, completamente loucos, que ficaram irremediavelmente doidos por qualquer maluquice.Esse é o caso daqueles que prometeram escrever uma crônica e não conseguiram.
Trecho do Livro 'A Máquina'- Adriana Falcão
Adriana Falcão - Mania de explicação
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando sempre faltam 5 minutos para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada em especial.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é Fevereiro...
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em outra ápoca do ano.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da palavra "perigo" o desejo chega e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... também não. É um "desadoro"... Uma batelada? Um exame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor não sei explicar...
23/04/2008
Para sempre, até quando? (Martha Medeiros)
(...)Ser feliz para sempre é o final que todos nós sonhamos para nossa história pessoal.
A personagem de Pão e tulipas estava sendo feliz para sempre, até que descobriu que a felicidade muda de significado várias vezes durante o percurso de uma vida.
Ninguém sabe direito o que é felicidade, mas, definitivamente, não é acomodação.
Acomodar-se é o mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático.
Muito seguro, mas que aborrecimento.
É preciso um pouquinho de turbulência para a gente acordar e sentir alguma coisa, nem que seja medo.
Tem muita gente que se distrai e é feliz para sempre, sem conhecer as delícias de ser feliz por uns meses, depois infeliz por uns dias, felicíssimo por uns instantes em outros instantes achar que ficou maluco, então ser feliz de novo em fevereiro e março,e em abril questionar tudo o que se fez, aí em agosto ser feliz porque uma ousadia deu certo,e infeliz porque durou pouco,e assim sentir-se realmente vivo porque cada dia passa a ser um único dia, e não mais um dia.
(...)Viver não é seguro. Viver não é fácil. E não pode ser monótono. Mesmo fazendo escolhas aparentemente definitivas, ainda assim podemos excursionar por dentro de nós mesmos e descobrir lugares desabitados onde nunca colocamos os pés, nem mesmo em imaginação. E estando lá, rever escolhas e recalcular a duração de “para sempre! Não dura tanto quanto duram nossa teimosia e receio de mudar.
Pacth Adans - Filme Poema recitado no filme para Monica Potter
"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo;
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com
Meu sonho..."
06/04/2008
Apocalipse - Laisa Rosinski
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