19/06/2009

Nietzsche / Frase / Péssima Memória

A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.

15/06/2009

Verônica H/ A íris é o diafragma do olho.

Ele olha, ela devolve o olhar.
Ambos sabem a improbabilidade dessa troca de olhares levá-los a algum lugar.
Ele está pensando no significado daquele sorriso tímido, disfarçado entre mechas de cabelo castanho que insistem em esconder o rosto que prendeu sua atenção entre tantos outros.
Ela está pensando em como é boba, e em quantas cantadas já depositou sonhos de amor eterno. Se ao menos fosse real...
Os dois temem a desislusão.
Ele fraqueja em sua confiança e deseja, pela primeira vez, uma só pessoa no mundo. Mas por que ela sequer falaria com ele?
Se ao menos fosse real...
Sem nomes, sem histórias anteriores.
Personagens comuns e paixões à primeira vista.
O que realmente tem um final feliz fora do papel?
A palavra final já tem uma conotação de tristeza nas histórias de amor.
Ela levanta um pouco constrangida, envergonhada da própria existência e caminha em direção ao banheiro. É uma fuga tingida de tédio.
Torcendo tanto para o garoto da outra mesa segui-la, torcendo tanto para ser invisível, querendo tanto querer algo possível.
Ele participa de um último comentário com os amigos que zombam uns dos outros e segue a garota com os olhos.
Deve levantar ou não?
Será que vai parecer um idiota? (todos parecem idiotas em situações românticas).
Levanta.Oi (não me deixe aqui sozinho, não me faça fingir que achei que era uma conhecida, não me faça fugir de você)Olá (ai meu deus, o que eu faço? Não quero parecer atirada, mas e se você acabar achando que eu sou difícil demais pra insistir?)
Eu vi você lá e... (queria saber seu nome, seus medos, sua vida. Queria te proteger do frio e do mundo, esquecer de tudo com você...)
É, eu... (queria saber seu signo e suas dores, saber o que há além desse garoto comum com amigos bobos e olhos magnéticos, queria largar tudo...)Você acharia muito estranho se eu dissesse que tudo parou?
Acharia.
Mas tudo parou.
Eu sei.Então?
Então aqueles olhos, que já se liam durante toda uma noite, finalmente se entenderam.
As palavras pareciam tão fracas e inexpressivas diante da comunicação mais profunda que existe, os enlaces faziam tanto sentido...
E tudo parou.

MEU CORAÇÃO / Fragmento/ Caio Fernando de Abreu

Meu coração é um sorvete...
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores.
Quem dele provar, será feliz para sempre.

11/06/2009

O amor é uma doença/ Tati Bernardi

Eu não sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia. Se eu compro balas, chicletes, devoro todos em minutos, compulsivamente.
Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo. Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade.
A felicidade guardada na bolsa ou na vida.
Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele.
Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele. Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote. Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade. Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo. É tão cansativo ser eu mesma com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso. Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Passe desta para uma melhor, porque eu sou um lixo. Eu lembro daquele conto da Clarice em que a garotinha ruiva guardava os contos para ler depois, porque queria prolongar o mistério da felicidade. Pois eu quero mais é botar fogo em todos os contos de felicidade que a vida escreve para mim, porque por alguma razão maluca a felicidade me escraviza, me paralisa, me faz ficar triste. Eu olho para você e tenho tanta, mas tanta alegria em saber que você existe, que sinto ódio. Ódio de eu não mais esperar por você. O sentido da minha vida era encontrar você. O motivo para eu seguir adiante nos corredores escuros e bater em portas obscuras, era a sua busca. Agora que você está sentado numa sala clara e óbvia, não preciso mais me enfiar em buracos. Mas os buracos eram a única trilha que eu conhecia. Você me soltou na atmosfera e eu estou voando. E eu sinto saudades do buraco, da espera, da angústia. Eu sinto falta de olhar triste para o espelho e me sentir metade. Agora que eu tenho você, nem perco mais meu tempo olhando para o espelho, porque só tenho olhos para você. Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim. Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota. O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa. Eu estava do lado da sujeira, eu era a outra, eu estava por dentro do crime. Você me fez sentir um mundo limpo, verdadeiro e eterno. E esse mundo é tão novo pra mim, que eu te odeio. Que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem. E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas. Você não me deu saída. Você transformou todas as vozes que me davam escapatórias para outros corredores, em sons sem lábia. Minhas saídas perderam as escadas escuras e charmosas, porque você lavou meu chão de imundícies com amaciante Fofo. Se eu tentar fugir, escorrego no perfume da minha nova vida. A nova vida que não sei viver. A nova vida que quero viver ao seu lado. Ao lado do homem que eu odeio porque nunca amei tanto. Ao lado da felicidade que eu odeio porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. E nem se quero. Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa. Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar. Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe, seu marido me come, seu namorado me come, o mundo quer me comer enquanto você borda seu laço cor-de-rosa. Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças. Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco. Com raiva da sua importância porque ela me congela, com raiva do tempo que não dura para sempre quando você me olha sabendo das minhas loucuras e ainda assim me amando. Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garoras vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia. Agora eu estou aqui, de quatro, de lingua no chão, te odiando muito, virando a cara, socando você, cuspindo em você, te tratando mal, tudo isso porque não sei lidar com o mundo girando na minha barriga, a tontura do amor, o enjôo do vício em você, a dor do músculo quando me separo. Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.

06/06/2009

Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento / Adriana Falcão/ Fragmentos do livro

Arrependimento é uma inútil vontade de pedir ao tempo para voltar atrás;
Belo é tudo que faz os olhos pensarem ser coração;
Carnaval , esta oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada;
Desculpas, é uma palavra que pretende ser beijo;
Efêmero é quando o eterno passa logo;
Escuridão é o resto da noite, se alguém recortar as estrelas;
é toda certeza que dispensa provas;
Gente: carne, osso, alma e sentimento, tudo isso ao mesmo tempo;
História: quando todas as palavras do dicionário ficam à disposição de quem quiser contar qualquer coisa que tenha acontecido ou sido inventada;
Idade, aquilo que você tem certeza que vai ganhar de aniversário, queira ou não queira;
Janela`, por onde entra tudo que é lá fora;
, onde a gente fica pensando se está melhor ou por do que aqui;Lágrima, sumo que sai pelos olhos quando se espreme um coração;
Loucura, coisa que quem não tem só pode ser completamente louco;
Madrugada, quando vivem os sonhos;
Noiva, moça que geralmente usa branco por fora e vermelho por dentro;
Óbvio, não precisa explicar;
Pecado, algo que os homens inventaram e então inventaram que foi Deus que inventou;
Q, tudo que tem um não sei quê de não sei quê.
Rebolar, o que se tem que fazer para chegar lá;
Segredo, aquilo que você está louco para contar;
Sexo: quando o beijo é maior do que a boca;
Talvez, resposta pior que ¨não¨, uma vez que ainda deixa, meio bamba, uma esperança;
Tanto, um muito que até ficou tonto;
Último, que anuncia o começo de outra coisa;
Único: tudo que, pela facilidade de virar nenhum, pede cuidado;
Vazio, um termo injusto com a palavra nada;
Xingamento é uma palavra ou frase destinada a acabar com a alegria de alguém;
Zíper, fecho que precisa de um bom motivo para ser aberto;

Marla de Queiroz/ Eu moro no caminho

02/06/2009

Fragmento/ Caio Fernando de Abreu/ Vida lantejolas

Sabe pra mim a vida é um punhado de lantejolas
E purpurina que o vento sopra Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo Deixa a vida assoprar, let it be, fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco.