18/01/2011

Quando um bebê decide vir ao mundo...

Uma mãe é mãe desde o primeiro instante.
Mesmo quando a vida ainda é um minúsculo ser implantado no ventre, a gente já é mãe do coração.
Todo nosso pensamento, todo nosso cuidado se volta para esse serzinho que, tão minúsculo, já provoca emoções tão grandes.
A simples descoberta já nos traz um turbilhão de emoções inexplicáveis. A vida nunca mais vai ser a mesma.
E nos perguntamos: "será que vou ser uma boa mãe?"
"Será que vou saber cuidar do meu bebê?"
Mas uma mãe não nasce mãe e não aprende a ser em escolas.
Uma mãe é e isso basta.
Mãe sente, mãe adivinha, mãe aprende sofrendo, mãe sofre aprendendo.
Benditas são as mulheres!
Se elas suportam uma das maiores dores, sentem sem dúvida a maior das felicidades.
Uma mulher grávida é sempre algo sublime, ela tem algo de anjo e santo, uma aura invisível que reflete e ilumina seu rosto.
Ela carrega nela a vida, um pedacinho dela mesma que vai um dia ter vida própria e isso é maravilhoso e assustador ao mesmo tempo.
Deve ser por isso que nos tornamos tão emotivas e choramos tão facilmente.
Deve ser essa a razão de querermos estar satisfeitas em todos os nossos desejos.
Que a gravidez não é uma doença é verdade.
Mas que não digam que é normal e que a pessoa pode viver normalmente, pois isso não é verdade.
Todo o equilíbrio físico, psicológico e emocional fica balançado.
Há ainda hoje civilizações onde as mulheres grávidas são tratadas como seres especiais e divinos.
Mãe que está descobrindo as alegrias da maternidade agora, precisa saber de uma coisa: se você tem medo de não saber o suficiente para ensinar ao seu bebê os caminhos da vida, saiba que é com ele que você vai aprender a trilhar muitos desses caminhos.
Viva a sua gravidez em todos os seus instantes e não se preocupe se está fazendo ou se fará as coisas certas ou erradas. Seu coração vai te ditar, confie nele!
Aproveite ao máximo cada segundo, pois cada momento é único e esse privilégio não é dado a todos.
Fale com seu bebê, faça carinho nele, sorria pra ele; viva o mais serenamente possível. Acredite: esses momentos são preciosos!...
E, sobretudo, você é uma pessoa agraciada!
Deus nos escolheu, para que fizessem parte um do outro.
Ele saberá, certamente, conduzi-los nesse maravilhoso caminho.

05/01/2011

Carta Anônima - Caio Fernando Abreu

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você.
Mais detardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira
assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança.
Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes
que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais
forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o
pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse
quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam
e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro
entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, temuma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com alinha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que ailha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisasassim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme,livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu pensode você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra. Daí penso coisas bobasquando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o diainteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, epenso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, oque é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeitoengraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Meseguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessaposição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas,e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certoque são mesmo os seus pés parados em alguma parada, algumaesquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são ascoisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente aodobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto dementirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras.Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete,suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquerlugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta omeu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensandotanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos emseguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudorde parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais.Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, nãotem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meupensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que VanGogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles queNelson Rodrigues.Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvezando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso.No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um poucotolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou vocêdeita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que aterra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nempercebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu tocona sua.Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigoolhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numaságuas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadascontra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei queé meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé noônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meucorpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você.Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quandopenso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminhomais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vez emquando até sorrio e fico passando a ponta domeu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundodo mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.