30/09/2008

Poesia / Martha Medeiros / Legalizem-me já

É como uma bêbada que atravesso os dias
Por intuição do caminho
As reações que em os outros são previsíveis
A mim acontecem de inopino
Não me pertenço
A verdade em mim são os detalhes da mentira
Meus pormenores, ácidos
O que não lateja me entorpece
Consumir-se é vício
Legalizem-me já

29/09/2008

Canção da estrela murmurante/ Lya Luft

Lya Luft/ Poesia

"Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rolanas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na conchada vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério
A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos a sério."

Guardei-me para ti- Lya Luft- Poesia

Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei: Há notas nesta guitarra que não toquei, Há praias na minha ilha que nem andei. É preciso que me tomes, além do riso e do olhar, Naquilo que não conheço e adivinhei; É preciso que me ensines a canção do que serei E me cries com teu gesto Que nem sonhei.

27/09/2008

Fragmento do livro /Cartas extraviadas e outros poemas/ Martha Medeiros

Quem sou? Mulher com garantia e seria ousadia prosseguir:
se madura ou biruta ou grotesca se sensível ou racional ou se mais uma igual a todas nada me define e eu definho, queria tanto ter certeza erro noite e dia, tenho consciência apenas do que faço mal atitudes certas e palavras oportunas: não confirmo existência faço tudo trocado, as avessas, sem jeito, e choro aos montes difícil existir no mundo sem um bom planejamento pessoal ...Eu não sou nada, ninguém, não sou daqui, não assimilei as regras sou uma boa indefinição bem disfarçada e que anda às cegas.

Travessuras/ Doidas e Santas/ Martha Medeiros

O amor verdadeiro tem dessas coisas:
não se explica,não se controla,
não se racionaliza,
simplismente toma conta.
É uma droga,
um vício,
uma viagem
entre céu e o inferno,
ida e volta,
sem parar.

25/09/2008

A interferência do tempo/ Martha Medeiros

Há quem diga que o tempo não existe, que somos nós que o inventamos e tentamos controlá-lo com nossos relógios e calendários. Nem ousarei discutir esta questão filosófica, existencial e cabeluda. Se o tempo não existe, eu existo. Se o tempo não passa, eu passo. E não é só o espelho que me dá certeza disso. O tempo interfere no meu olhar. Lembro do colégio em que estudei durante mais de uma década, meu primeiro contato com o mundo fora da minha casa. O pátio não era grande era colossal. Uma espécie de superfície lunar sem horizontes à vista, assim eu o percebia aos sete anos de idade.
As escadas levavam ao céu, eu poderia jurar que elas atravessavam os telhados. Os corredores eram passarelas infinitas, as janelas pareciam enormes portões de vidro, eu me sentia na terra dos gigantes. Volto, depois de muitos anos, para visitá-lo e descubro que ele continua sendo um colégio grande, mas nem o pátio, nem os corredores, nem as escadas, nada tem o tamanho que parecia antes. O tempo ajustou minhas retinas e deu proporção às minhas ilusões. A interferência do tempo atinge minhas emoções também. Houve uma época em que eu temia certo tipo de gente, aqueles que estavam sempre a postos para apontar minhas fraquezas. Hoje revejo essas pessoas e a sensação que me causam é nem um pouco desafiadora ou impactante. E mesmo os que amei já não me provocam perturbação alguma, apenas um carinho sereno. E me pergunto como é que se explica que sentimentos tão fortes como o medo, o amor ou a raiva se desintegrem? Alguém era grande no meu passado, fica pequeno no meu presente. O tempo, de novo, dando a devida proporção aos meus afetos e desafetos. Talvez seja esta a prova da sua existência: o tempo altera o tamanho das coisas. Uma rua da infância, que exigia muitas pedaladas para ser percorrida, hoje é atravessada em poucos passos. Uma árvore que para ser explorada exigia uma certa logística ou ao menos um calço de quem estivesse por perto e com as mãos livres hoje teria seus galhos alcançados num pulo. A gente vai crescendo e vê tudo do tamanho que é, sem a condescendência da fantasia. E ainda nem mencionei as coisas que realmente foram reduzidas: apartamentos que parecem caixotes, carros compactos, conversas telegráficas, livros de bolso, pequenas salas de cinema, casamentos curtos. Todo aquele espaço da infância, em que cabia com folga nossa imaginação e inocência, precisa hoje se adaptar ao micro, ao mínimo, a uma vida funcional. Eu cresci. Por dentro e por fora (e, reconheço, pros lados). Sou gente grande, como se diz por aí. E o mundo à minha volta, à nossa volta, virou aldeia, somos todos vizinhos, todos vivendo apertados, financeira e emocionalmente falando. Saudade de uma alegria descomunal, de uma esperança gigantesca, de uma confiança do tamanho do futuro - quando o futuro também era infinito à minha frente.

Chorar faz bem/ Martha Medeiros

(...) Comecei a ficar mais atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que, aliás, costumam ser raros. Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa. É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta. Qualquer coisa pode servir de motivo. Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa. Que festa, cara-pálida? Por dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria existencial, isso sim. Não pretendo soar melodramática, mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita coisa deu certo, e outras não. Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou. Normal, normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida? Vá que tudo isso passe pela sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador. De repente, a conexão cai, e em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê? Cai no berreiro. Evidente. Eu sorrio muito mais do que choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem. Eu não gosto. Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem. Em público, então, sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito. O delito de estar emocionada. Mas emocionar-se não é uma felicidade? Neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá. Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. É sempre a dor do crescimento.

19/09/2008

Clarice Lispector -Fragmento do livro- Água Viva

“Não posso escrever
enquanto estou ansiosa
ou espero soluções porque
em tais períodos
faço tudo para que as horas passem;
e escrever
é prolongar o tempo,
é dividi-lo em partículas de
segundos, dando a cada uma delas
uma vida insubstituível”.

Carta Extraviada- Martha Medeiros

Não sei por onde começar esta carta que já nasce atrasada,
pensamos sempre que temos muito a dizer mas as palavras são pouco amistosas, onde encontrá-las agora, às três e dez de uma madrugada em que me encontro insone e pensando mais uma vez em você?
Você esperou por estas palavras por muitos meses, na esperança de que elas aliviariam a dor do seu coração, mas elas não vieram porque estavam ocupadas vigiando meus impulsos, me impedindo de me abrir, e minha própria dor lhe pareceu desatenção, eu que não durmo de tanta paixão congestionada, de tanto desejo represado, de tão só que estou.
Meus motivos sempre lhe pareceram egoístas, e se eu lhe disser que o descaso aparente foi na verdade uma atitude consciente para preservar você, me chamarás de altruísta e não sairemos do mesmo lugar.
Eu errei por não permitir que você me oferecesse seu afeto, eu errei ao sobre valorizar um risco imaginário, eu errei por achar que existem amores menores e maiores, avaliados pelo tempo investido, pela contagem dos beijos, pelas ausências sentidas, por tudo isto fui conduzido a um erro de cálculo.
Não te peço nada além de compreensão, e esta carta nem era para pedir, mas para doar, eu que sempre me achei bom nessas coisas, o voluntário da paz, o boa-gente oficial da minha turma.Mas peço: lembre de mim como alguém que alcançou a mesma medida do seu sentimento, a mesma profundidade das suas dúvidas, o mesmo embaraço diante da novidade, o mesmo cansaço da luta, a mesma saudade.
A carta vem tarde e redigida com palavras covardes, as corajosas repousam pois se imaginam já ditas e escritas, valentes foram as palavras do início, as desbravadoras, as que ultrapassaram limites, quando nós dois ainda não sabíamos do que elas eram capazes, palavras audazes, febris.
Pela enormidade de tempo que temos pela frente em que não nos veremos mais, não nos tocaremos ou ouviremos a voz um do outro, pela quantidade de dias em que conduzirás tu vida longe de mim e eu de ti, pela imensidão da nos descrença, pela perseverança da nossa solidão, pelos nãos todos que te falei, pelo pouco que houve de sim, acredita: te amei além do possível, não te amei menos que a mim.

Fragmento do livro- Tudo que eu queria te dizer- Martha Medeiros

Durante todos estes anos, duas ou três frases foram verdades.
Os "eu te amo" mais sinceros foram pra quem não amei.
E os homens que amei não me escutaram.
Eu não sei o lugar certo de dizer.
A hora certa de ser humana.
Tenho a sincronia de um espantalho.
Paralisada.
Ninguém precisa se assustar comigo.
Eu sou de mentirinha.

18/09/2008

Carta de Clara para Bia- Livro -Tudo que eu queria te dizer- Martha Medeiros

"Bia, minha doçura,

não não não, está proibida de ficar triste, pro-i-bi-da! Pirou? Perdeu a noção do perigo?

Caramba, como é que uma mulher como você pode se deixar abater pelo final de um romancezinho à-toa?

Sorry, sei que não foi à-toa, que você curtiu, foi bacana, tá bom, tá bom, é que, como não participei, não vi nada, mal conheço vcs dois juntos.

Mas puta que pariu, não pode ficar abalada desse jeito! Não você!

Não minha Biazinha, não minha amigona, minha fortaleza.

Você desmoronar é o prenúncio do fim do mundo, proíbo, não deixo.

Ahhhhhhh, tá bom. Sei que é foda.

Dor de cotovelo é pior que arrancar um siso, pior que fratura exposta - aliás, é uma fratura exposta. A gente fica ali vendo o osso pra fora, doendo feito a morte, e pensando se a coisa vai voltar pro lugar, se vamos andar de novo, se é possível tocar a vida sem se sentir um aleijado.

Pô, se vc não conseguir, quem vai?

Bia, chore escondido, se esparrame na cama e molhe o travesseiro, faça aquele numero q todo mundo conhece: chamar a si mesma de imbecil e decretar que nunca mais, nunca mais... Ora, nunca mais amar, nunca mais acreditar nas palavras bonitas desses sacanas, nunca mais tudo!

Dê seu show particular, reprise o dramalhão algumas noites, e depois enxugue essas lágrimas e volte pra vida.

Pra vida! Elé é o único homem do mundo? Não, né?

Você disse que foi uma espécie de milagre a história de vcs acontecer, então, minha santa, quem faz um, faz outro, aproveite o know-how e dá-lhe milagre!

Vc já fez tanto por vc, já foi tão longe, não vai entregar os pontos agora, nem pensar.

Eu queria estar aí em Porto Alegre pra segurar sua mão, pentar seus cabelos te levar para um shopping e dar um up nesse seu astral moribundo

-Vc ainda detesta shopping? Menina, que DNA defeituoso esse seu, me explica como alguém pode não gostar de comprar.

Gostando ou não, prometa que vai esta semana entrar numa loja bem cara e sair de lá com um monte de roupas que vc não sabe onde irá usar.

Ajuda, claro que ajuda. E nem ouse ler os e-mails dele, ver as fotos dele, lembrar dele!

Lobodomia autorizada, lacre essa parte do cérebro, a da memória.

Não lembre nada, não viva pra trás: planeje!

Foque no futuro: uma viagem, um projeto profissional, novos amigos, novos hábitos!

Encoraje-se, o verão está chegando e você está magra, magérrima! Bote esse corpão numa praia espalhe esse sorriso lindo e você vai ver o que acontece, Milagres!!

Não pergunte por mim, eu poderia ser animadora de auditório, mas quando se trata da minha própria vida é uma desolação.

Estou sem ninguém há séculos, aqui em SP sou a mulher invisível, poderia entrar num restaurante e sair sem pagar que ninguém viria cobrar a conta, já é um superpoder, não é?

Mas eu me acostumei com isso e nem dou mais bola, mas vc, Biazinha, vc é de outra linhagem, é uma mulher que precisa, pre-ci-sa estar amando, estar apaixonada, e vc exige estar sempre possuída por um encantamento.

Eu estive com você lá atras naqueles tempos duros e solitários, e sei que você merece um arrebatamento mais do que minha irmã até.

Não conte pra ela senão ela apertará aquelas duas mãos gordas no meu pescoço.

Bia, o que posso fazer de concreto a nao ser te potar essa pilha inútil?

Pensa que eu não sei que palavras não servem pra nada? Pra nada.

Sofrer por amor é um atraso de vida, e não há remédio que entorpeça a dor, que amenize, que anestesie, nada, nada, antidepressivo não funciona nessa hora, e cocaína não ouse...

A indústria farmacêutica ainda está muito atrasada em relação à corações feridos, não acha?Psiquiatra, que tal?

Conheço vc, é durona, vai resistir, vai sobreviver a mais essa rasteira.

Biazinha, eu sei de pelo menos três homens alucinados por vc, q largariam família, emprego, amante, saltariam de um foguete em movimento para voltar pra Terra e te pegar, então escuta, trata de sentar, respirar, ficar bonitinha e avaliar os candidatos.

Tô enxergando vc aí puta da vida do outro lado, dizendo que não quer saber de ninguém, só dele...

Esses homens! Como ficam importantes depois que somem. Antes você nem dava muita bola pra ele, agora olhe você.

Vai superar, belezoca. Um pouquinho de paciência e champanhe e vc melhora rapidinho.

Bia, não sei dizer coisas sérias e inteligentes que dizem nossas outras amigas, elas devem estar se sentindo mais úteis do que eu nesse momento, mas daqui de longe tudo que eu posso fazer é te mandar essas letras de apoio do meu jeito atrapalhado e sem conteúdo,

sou assim na alegria na tristeza, no amor e na doença, um traste que não sabe dizer coisas profundas mas que te abraça e beija, kisses!

Clara

Constante e doce entrega -Laisa Rosinski- Poema

Estende sua mão a mim,
Porque ja me perdi na imensidão desse sentimento
Olha nos meus olhos e me enxerga
Porque o espelho já não me reflete sem você
Ouça a música que encanta
Pois é com você que a escuto.
Guia meus passos
Pois sem os seus os meus perdem a direção
Cutive minha alma e meu coração
Pois eu os deixei em suas mãos
Cultua meu corpo pois ele é por inteiro seu.
E nessa doce e constante entrega
Ame,
e assim me faras por completo o que sempre quis ser.

17/09/2008

A força de um ato

dura o tempo exato

para ser compreendida

depois disso é bobagem

vira longa-metragem

por acaso estendida

fora o essencial

nada mais é naturalvira apenas suporte

pena a vida não ter corte.

EU TAMBÉM...- Crônica- Martha Medeiros

Vc deve lembrar para quantas pessoas (excetuando-se pais, filhos e amigos)
você já disse EU TE AMO: não foram muitas.
Amor pra valer não é sentimento que se sinta por uma multidão.
Por duas ou três já terá sido uma bênção e a maioria de nós talvez tenha dito isso apenas para uma.
Por outro lado, o EU TAMBÉM tem sido repetido à exaustão.
EU TAMBÉM sai fácil. EU TAMBÉM não significa nada.
Alguém lhe diz EU TE AMO e vc não ama essa pessoa.
Qual a saída? Ficar quieto e segurar o constrangimento, ou dizer EU TAMBÉM
e satisfazer momentaneamente a necessidade de retribuição do outro.
Pq vc não diz EU TE AMO?
Pq é uma frase longa demais e mentirosa demais e não se deve mentir sobre sentimentos.
Se vc realmente sente, vc diz. Caso contrário, o EU TAMBÉM liquida a questão.
Pobre do ouvinte do EU TAMBÉM.
Ele se inspira todo para dizer
"vc é a pessoa mais especial que eu já encontrei na minha vida e pretendo passar o resto dos meus dias ao seu lado"
e tudo o que ele ouve de volta são aquelas duas palavrinhas preguiçosas.
Se ele tivesse dito "eu não agüento mais comer pizza e hambúrguer nos finais de semana,
ando com saudade do rango da minha velha", o EU TAMBÉM viria da mesma forma,
talvez até mais animado. EU TAMBÉM deveria ser proibido nos diálogos amorosos.
Ou a pessoa diz "eu tbm sou louca(o) por vc", "eu tbm não vejo a hora da gente ficar junto",
"eu tbm nunca senti isso antes", ou não diz nada.
Apenas sorri. Pô, pelo menos sorrir, o que é que custa?
Abaixo o EU TAMBÉM resumido! O EU TAMBÉM sorumbático!
O EU TAMBÉM automático! Automático, sim.
Experimente segurar o rosto da pessoa que vc ama entre suas mãos, ficar face a face,
bem perto mesmo e dizer com os olhos semi-abertos e a voz mais macia do mundo: EU TE DETESTO...
O outro vai responder EU TAMBÉM cheio de amor pra dar.
Um distraído, isso é o que ele é...
Na hora de declarar-se, não basta o sujeito e o advérbio:
queremos verbo!

A Santa Paz Não Devora- Poesia- Martha Medeiros

Sim, é verdade,
estou feliz
mas isso não significa
que não deva
olhar pros lados
e que precise
acordar todo dia à mesma hora
sim, a princípio nada me falta
mas não preciso em função disso
deixar de querer um pouco mais
e trocar os meus desejos
por outros que não lembro agora
sim, que me conste, eu estou bem
mas o espelho não é o mesmo todo dia
já não gosto tanto assim dos meus desenhos
e hoje não vou comprar morangos
e sim abacates, uvas e amoras
sim, pra que negar, estou alegre
mas não vou me conformar com calmantes
nem me embriagar de satisfação
não quero a morte lenta, exijo a renovação
a mim a santa paz não devora

Frase livro Divã- Martha Medeiros

"Meu coração está sossegado,
não se trata de reacender chama alguma.
Este encontro acidental só confirmou o que eu sempre soube:
que aquele amor foi uma vaidade extrema de minha parte..."

Martha Medeiros- Poesia - Foi então que aconteceu

Eu tinha acabado de dobrar a esquina quando você entrou numa livraria.
Eu estava saindo de uma loja de discos onde havia escutado Schubert
Ele escolhia um dicionário de rimas
Mas estava incerto do que queria.
Eu parei diante da vitrine
Mas estava incerta do que via
Ele comprou o dicionário
Quando o céu escureceu
Eu entrei na livraria
Quando a chuva começou
Foi então que aconteceu

Me sinto-Fragmento do livro Divã- Martha Medeiros

"Meu mundo se resume
as palavras que me perfuram,
a canções que me comovem,
a paixões que já nem lembro,
a perguntas sem respostas,
a respostas que não me servem,
à constante perseguição do que ainda não sei.
Meu mundo se resume ao encontro
do que é terra e fogo dentro de mim,
onde não me enxergo,
mas me sinto."

Eu não me conformo -poesia- Martha Medeiros

Eu penso conforme o tempo
eu danço conforme o passo
eu passo conforme o espaço
eu amo conforme a fome
eu como conforme a cama
eu sinto conforme o mundo
mas no fundo
eu não me conformo

10/09/2008

Beije-me- poesia- Martha Medeiros

Beije-me as coxas
pálpebras, dedos, lóbulos
os dois
beije-me o seios
um e outro, que são ciumentos
ambos
Beije-me os lábios
superior e inferior
os grandes e os pequenos
todos

O tempo- Poesia- Martha Medeiros

O tempo traz
O tempo tira
O tempo falta
O tempo vigora
O tempo voa
O tempo não passa
O tempo é favor ou contra
Conforme a hora.