"...- Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima.
Que você podia tê-la tocado.
Você podia tê-la apanhado.
No ar, que nem uma fruta.
Aí volta o soco.
E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro?
O outro fez um movimento como se fosse falar, mas ele o deteve.
- Sei, sei.
Você vai perguntar: mas houve um erro?
Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro.
Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende?
No segundo seguinte, você ia tocá-la, você ia tê-la.
Era tão. Tão imediata. Tão agora. Tão já. E não era.
Meu Deus, não era.
Foi você que errou?
Foi você que não soube fazer o movimento correto?
O movimento perfeito, tinha que ser um movimento perfeito.
Talvez tenha demonstrado demasiada ansiedade, eu penso.
E a coisa se assustou, então.
Como se fosse uma fruta madura, à espera de ser colhida.
É assim que vejo ela, às vezes.
Como uma coisa parada, à espera de ser colhida por alguém que é exatamente você.
Não aconteceria com outro.
Depois, quando ela foge, penso que não, que não era uma fruta.
Que era um bicho, um bichinho desses ariscos.
Coelho, borboleta. Um rato.
É preciso cuidado com o arisco, senão ele foge.
É preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do tempo.
Cada movimento em direção a ele é tão absolutamente lento que o tempo fica meio abolido.
Não há tempo. Um bicho arisco vive dentro de uma espécie de eternidade.
Duma ilusão de eternidade. Onde ele pode ficar parado para sempre, mastigando o eterno.
Para não assustá-lo, para tê-lo dentro dos seus dedos quando eles finalmente se fecharem, você também precisa estar dentro dessa ilusão do eterno..."
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