18/08/2008

Até a rapa- Crônica de Martha Medeiros

"Olhe para um lugar onde tenha muita gente : uma praia num domingo de 40 graus, uma estação de Metrô, a rua principal do centro da cidade. Pois metade deste "povaréu" sofre de dor-de-cotovelo. Alguns trazem dores recentes. Outros trazem uma dor de estimação, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos têm um amor mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação. Porque isso acontece ? Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo ! Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim. Você sabe ... O amor acaba ! É mentira dizer que não ! Uns acabam cedo. Outros levam 10 ou 20 anos para terminar. Talvez até mais, mas, um dia acaba e se transforma em outra coisa : amizade, parceria, parentesco; e essa transição não é dolorida se o amor foi devorado até a "rapa". Dor-de-cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado ! ... ninguém tem tempo para esperar. E tem que ser vivido em sua totalidade ! É preciso passar por todas as etapas do amor : atração; paixão; amor; convivência; amizade; tédio e fim. Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, ... enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estarmos abertos para novos amores. Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade. Tudo o que a gente poderia ter dito e não disse. Feito e não fez. Gaste seu amor ! Usufrua-o até o fim ! Enfrente os bons e os maus momentos, passe por tudo que tiver que passar. Não se "economize" ! Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo..."

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