“Que merda.
De que vale tudo isso?
Quanto vale a minha vida?
‘Já conheço os passos dessa estrada e sei que não vai dar em nada.’
Rigel está de novo em prantos.
E ele tem todo o direito de chorar.
Ele tem todo o direito do mundo de bater com a cabeça na parede.
Quanta dor um homem suporta?
Quanto um coração agüenta de sofrimento?
Dá para morrer de amor?
(...) Você sabe o que é perder?
Sabe.
Não há quem não saiba o que é perder.
Depositar tanto sonho em algo.
Sonhar é tão trabalhoso.
Imaginar um mundo de felicidades sem fim.
Lotado de paixão e sensualidade.
Passear com seu grande amor.
O amor de sua vida para sempre.
E esse amor vai ser pra sempre lindo e charmoso.
Irá dizer coisas espirituosas para você no balcão de um bar cool.
E quando chover de repente, e você pensar em correr, o amor de sua vida
– que é lindo, culto, corajoso – dirá que quem corre da chuva é rato e que nós somos homens, somos fortes e invencíveis.
O amor entupindo as veias de fé e imortalidade.
Nós já nos conhecemos desde outra encarnação e vamos nos amar para toda a vida celestial e eterna.
Uma eternidade sem fim.
Não, não há morte.
Ficaremos paras sempre juntos.
(...) E não há paisagem que seja mais linda do que o rosto do seu amor.
Não há pôr-do-sol que valha desviar seu olhar do dela.
Eu te amo. Eu também te amo. Eu te amo mais. Impossível. Eu te amo o mundo.
Eu te amo o universo. Te amo tudo aquilo que não conhecemos.
E eu te amo antes que tudo o que nós não conhecemos existisse.
Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo mais do que a mim.
‘Já conheço os passos dessa estrada’...
E, mesmo assim, estarei sempre pronto para esquecer aqueles que me levaram a um abismo.
E mais uma vez amarei.
E mais uma vez direi que nunca amei tanto em toda a minha vida.
Direi.
‘Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração’.
Rigel chora.
É um marmanjo chorando sozinho, sem conseguir tomar banho.
Não! Preciso reagir.
O que eu tenho, afinal? Saudades. Eu tenho saudades.”
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