24/04/2009
Indivisíveis - Mário Quintana
O meu primeiro amor e eu sentavamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas, como qualquer troca de confidências
Entre crianças de cinco anos. Crianças...
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A nao ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu nao encontrava em ninguem mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal-ou celestial- inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que disséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida.
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