13/09/2009

A prima maldade/ Tati Bernardi

" Às vezes, minutos depois da chegada, ela desaparece com sua imensa mala vermelha cheia de apetrechos cortantes e pontudos.
Tão grande, forte, bonita.
Dá uma dor no peito aceitar o tchau, o carro já longe.
Eu sei que ela volta, a Maldade não dura muito mas sempre volta.
O problema é que dá a maior preguiça começar tudo de novo: as boas intenções, acordar cantando, sorrir que nem boba por aí.
Como eu queria, alguns dias a mais, que ela ficasse.
Essa prima que vem de longe só porque fico numa saudade infinita e imploro com minha melhor lábia!
Durante sua estadia, como nos divertimos!
Mulher se dá bem demais com esse tipo de parente.
E vai dizer que o mundo, com suas picuinhas, chatices,e falsidades, não merece essa linda e imbatível parceria brilhando ao sol?
É preciso sinceridade.
Existe essa coisa incrível chamada nobreza de caráter e fofurinha de alma.
A vontade de aceitar a vida, perdoar as traições, ser amiga de todo mundo, alegrar pessoas. Gostar de gente.
Pior: gostar das pessoas como elas são.
Mas existe também a anti-heroína ultracharmosa e necessária que vai mentir um pouco só para rir depois.
Vai dar o troco com gosto.
Vai fofocar até não suportar mais tanto veneno.
É ou não é?
Prima querida, a vida é muito melhor (e mais digna) sem você.
Mas quando você vem, junto chega essa sensação de ser inteira e honesta.
De saber que tem a hora de estender a mão mas tem também a de empurrar um pouco.
Santo é tão improvável que vira santo, já parou para pensar?
A bondade é essa loucura que me leva para longe.
Depois, na chuva, no escuro, no frio, na lama, eu pequena, o mundo gigante e quase impossível.
Eu olho para o chão e vejo seus saltos altíssimos de bico fino.
É ela que reaparece sarada e maquiada para me resgatar.
Ai subo em suas costas e não tem para ninguém."

Um comentário:

Fran disse...

Noossa! A Tati é fantástica :)

Beeijos!